O Presidente da República dirigiu-se ontem aos portugueses numa mensagem de Ano Novo em que advertiu para um 2009 "muito difícil". Cavaco Silva falou no perigo das "ilusões" para confessar não poder esconder a "verdade da situação difícil em que o país se encontra" mas deixando a ideia de que o caminho para "Portugal sair da quase estagnação económica" existe, apesar de "estreito".
Afirmando que "a crise financeira internacional apanhou a economia portuguesa com algumas vulnerabilidades sérias", Cavaco Silva entendeu não dever esconder que 2009 "vai ser um ano muito difícil", um ano durante o qual receia o "agravamento do desemprego e o aumento do risco de pobreza e exclusão social". "A verdade é essencial para a existência de um clima de confiança entre os cidadãos e os governantes. É sabendo a verdade, e não com ilusões, que os portugueses podem ser mobilizados para enfrentar as exigências que o futuro lhes coloca", afirmou o Presidente logo de início numa mensagem à Nação centrada nos problemas da crise.
O Presidente abordou por outro lado a via da união que poderá servir como factor mobilizador dos portugueses lembrando a um mesmo passo as forças políticas de que têm "especiais responsabilidades" no combate à crise, um combate que deve vir antes das "divisões inúteis" e das "querelas que em nada contribuem para melhorar a vida dos que perderam o emprego, dos que não conseguem suportar os encargos da prestação das suas casas ou da educação do seus filhos, daqueles que são obrigados a pedir ajuda para as necessidades básicas da família". "Os portugueses gostariam de perceber que a agenda da classe política está, de facto, centrada no combate à crise", advertiu Cavaco Silva. Cavaco aponta economia com o exterior como fundamental Com o traço negro com que ilustrou a realidade actual, Cavaco Silva aponta que uma das prioridades estratégica da política nacional para enfrentar os tempos difíceis que se avizinham é "o reforço da capacidade competitiva das nossas empresas a nível internacional e o investimento nos sectores vocacionados para a exportação".
Caminho fundamental, na opinião do Presidente da República, sempre com a ameaça pendente de o país não conseguir "pôr fim ao crescimento explosivo da dívida externa".
Cavaco adverte que sem ter presentes aquelas prioridades "é pura ilusão imaginar que haverá verdadeiro progresso económico e social, criação duradoura de emprego e melhoria do poder de compra dos salários". Rigor e eficiência, exige Cavaco O Presidente da República pega num dos temas mais actuais da economia global para fazer um apelo à redução da "ineficiência e a dependência do exterior em matéria de energia". Por outro lado, Cavaco Silva sublinha a necessidade de "rigor e eficiência" na utilização dos dinheiros públicos e alerta o Governo para o seu plano anti-crise assente no investimento público, lembrando que "há que prestar uma atenção acrescida à relação custo-benefício".
Vitalino Canas considera mensagem "importante e realista" Preferindo centrar-se na "grande convergência" entre os discursos do Presidente e do Governo, o porta-voz do PS considerou a mensagem do Presidente da República "importante e realista". "Foi um discurso importante e realista, que fala dos tempos difíceis que aí vêem, mas também cria confiança", afirmou Vitalino Canas, que diz não ter ouvido na mensagem de Cavaco Silva "nenhuma crítica ao Governo e às suas políticas". Para o porta-voz dos socialistas, foi importante o Presidente ter sublinhado a necessidade de "continuar a apontar para a inovação, no rigor e na confiança (que) coincidem com as palavras-chave do Governo".
Coube ao vice-presidente do PSD, António Borges, a reacção por parte dos sociais-democratas. O economista disse que a mensagem de Cavaco se torna "particularmente importante" no contexto de uma crise que se vive em Portugal e que se traduz em seu ver numa "estagnação que já dura há oito anos". "É uma mensagem particularmente importante no momento presente, face às desigualdades económicas que se registam em Portugal, que estão a criar e a agravar situações de profunda injustiça na sociedade portuguesa e que resultam da política económica que tem vindo a ser seguida e que se traduz por uma estagnação que já dura há oito anos", afirmou o social-democrata. António Borges disse ainda que a mensagem é "certeira para o momento actual" quando se persiste no "erro" do endividamento externo de Portugal.
Apesar de admitir que a crise económica que Portugal atravessa foi "agravada" pela crise financeira internacional, o vice-presidente laranja não deixa de apontar ao Governo PS responsabilidades na situação actual do país e sublinha a preocupação do Presidente quando este "relembra o carácter urgente de uma redefinição da utilização dos dinheiros públicos, com particular atenção para os grandes projectos em relação aos quais não há nenhuma confiança em relação ao custo-benefício". António Borges subscreve igualmente o apelo para que se coloque um ponto final na "conflitualidade entre instâncias políticas", conflitualidade que considera "ter vindo a crescer de forma completamente inútil nos últimos tempos".
Solução apenas com ruptura, advoga o PCP Os comunistas subscreveram a análise do Presidente, defendendo contudo que as soluções para crise só poderão ser encontradas mediante a ruptura com a actual política do Governo. "É uma declaração que fica a meio do caminho necessário. Subscrevemos as prioridades avançadas pelo Sr. Presidente da República, mas consideramos que não há soluções para os problemas dos trabalhadores, das populações, se a mesma política for seguida", considerou Paulo Raimundo. Nesse sentido, aquele membro da Comissão Política do Comité Central lembra que "o PCP considera que há que ter confiança e espírito empreendedor no sentido de caminhar para uma ruptura com esta política" para que possa operar-se uma "alteração significativa do país".
BE elogia mensagem e defende prioridade ao emprego O Bloco de Esquerda ficou agradado com o facto de o Presidente da República ter sublinhado que a crise internacional "caiu em cima de uma crise" que já existia quando o Governo "tem tentado dizer que tudo estava bem" até essa crise internacional. "O Presidente salientou, e bem, como o BE tem feito, que a crise internacional caiu em cima de uma crise que já cá estava, quando disse que a economia tinha vulnerabilidades e há oito anos que está a afastar-se do desenvolvimento dos seus parceiros europeus", declarou Fernando Rosas. O dirigente bloquista aproveitou para salientar ser "necessária uma política de criação de emprego", "prioridade política absoluta" se o Governo quiser ultrapassar a crise. CDS-PP aplaude mensagem "verdadeira, oportuna e realista"
Também o CDS-PP fala de uma mensagem que ilustra "a realidade do país que o Governo tenta esconder". Nuno Melo considerou que Cavaco Silva faz uma "apreciação de verdade" sobre o país que "a Maioria tentará esconder em ano de eleições". O deputado popular referiu que "todos os indicadores económicos e as análises de especialistas económicos apontam para as dificuldades referidas na mensagem de Ano Novo do Presidente da República e que no ano eleitoral em que vamos entrar não podem ser escondidas". "O Presidente da República dá inclusive um sinal ao Governo de que o Orçamento de Estado aprovado recentemente estava desactualizado antes mesmo de entrar em vigor por não reflectir a realidade do país", sublinhou Nuno Melo, para quem o Presidente da República deixa um "sinal de esperança nos portugueses e não no Governo".
Paulo Alexandre Amaral, RTP
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