O furto de duas estátuas em pedra de granito do centro da freguesia de Fiães, nos arredores de Trancoso, uma delas da padroeira Nossa Senhora da Graça, de grandes dimensões, está a alvoroçar as duas centenas de habitantes da pacata localidade do distrito da Guarda. Ultrapassada a surpresa inicial perante um crime que poucos julgariam possível, dadas as características dos objectos furtados, há quem deite contas à vida e comece a pensar duas e três vezes antes de deixar as chaves na porta como era costume na aldeia.
"Está tudo amedrontado. Primeiro andaram por aí, dentro de casas e belgas, a roubar alfaias agrícolas e as pedras dos muros. Agora tiveram a ousadia de levar uma peça em granito, com centenas de quilos e um metro de altura, que precisou de uma retroescavadora para ser posta no pedestal. É assustador", confessava ontem Ana António, de 79 anos, vizinha do largo onde até à madrugada de 2 de Fevereiro pontificou a imagem da padroeira.
Os moradores admitem que o furto da estátua de Nossa Senhora da Graça precisou de muita gente e aparato para ser consumado durante a madrugada. Mas, na aldeia, ninguém deu conta. O alerta seria dado pelo padeiro às primeiras horas do dia 2 de Fevereiro."Quando ia abrir a porta da igreja, às sete horas da manhã, vi o povo em grande alvoroço. Intrigada, perguntei se tinha morrido alguém. Soube então que tinham roubado a estátua. Nem quis acreditar", recorda Maria de Fátima Nunes."Roubaram aquela, e foram ao nicho em pedra, no cruzamento para Aldeia Nova, e levaram ainda uma imagem mais pequena e antiga, também em granito. Costumo passar todos os dias por aqui, de manhã, com uma sachola. Tivesse eu dado com a vista em cima dos gatunos", ameaça José Francisco de 72 anos.
A estátua de Nossa Senhora da Graça, réplica de outra em madeira que existe na igreja, foi colocada no centro de um terreno comprado, murado e ajardinado com dinheiro angariado junto da população e das autarquias. "Foram investidos cerca de 20 mil euros. Mas seria muito mais se a mão-de-obra não tivesse sido gratuita", esclarece Luís Salvador, um dos impulsionadores da obra, que recorda que todo o património foi oferecido à igreja. "Não vamos baixar os braços. Havemos de conseguir recuperar a estátua da nossa padroeira", avançou José Fonseca, presidente da Junta de Freguesia de Fiães.
Luís Salvador - Professor Ensino Secundário
Chegou a trabalhar 16 horas num dia, ao lado de um pequeno grupo de conterrâneos, para que a freguesia de Fiães tivesse um jardim tratado e florido a contextualizar o trono com a imagem da padroeira. E conseguiu. A estátua de Nossa Senhora da Graça dominou, desde o último dia de Dezembro de 2000, o largo principal da freguesia. Até ser furtada em Fevereiro último. Foi com confessada tristeza que Luís Salvador, professor de Geografia na Escola Secundária de Trancoso, soube do furto da estátua. "Ficamos estupefactos. Este crime, pelas suas características, só pode ter sido consumado por um grupo organizado. Uma questão que nos deixa apreensivos. Vamos tentar angariar fundos para repor a estátua. Mas vai ser difícil recuperar a confiança", diz.
Teresa Cardoso - Jornal de Notícias
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