Depois das exigências lançadas ontem pelos sindicatos da região, este domingo foi a vez de o presidente da Junta de Freguesia de S. Miguel, onde se encontra instalada a Delphi da Guarda, vir a terreiro pedir "outra geração de apoios públicos" para os 500 trabalhadores da multinacional em via de despedimento.
João Prata, presidente da Junta cuja área acolhe quer as instalações da unidade como ainda a residência de uns 40 por cento dos trabalhadores, exige do Governo novos "apoios públicos" para estes operários. "O que me surpreende mais é que nós não estejamos a acautelar devidamente, do ponto de vista legislativo e do ponto de vista dos apoios sociais e profissionais, uma outra geração de apoios públicos para as pessoas que fiquem desempregadas", alertou o social-democrata, manifestando a sua preocupação com o futuro dos desempregados, que já apontam a emigração "como única porta que se lhes abre".
Consciente da existência das medidas de apoio que vão das indemnizações aos subsídios de desemprego ao rendimento social de inserção ou acções de formação, João Prata preferia ver privilegiada uma resposta que tivesse "muito mais em mente a ideia de incentivar o auto-emprego, de criação de pequenas ou micro empresas". Nesse sentido faz um apelo para que sejam disponibilizados apoios para "instalação de actividade económica, industrial e comercial" na zona da Guarda.
O presidente da junta de S. Miguel deixa ainda um alerta para que nada falte a quem está em vias de perder o posto de trabalho, incluindo apoio aos descendentes e a pessoas que "têm situações clínicas complicadas resultantes do trabalho na Delphi". João Prata lança ainda um apelo às instituições bancárias para que - no que respeita à situação dos trabalhadores com empréstimos à habitação - ponderem "as possibilidades de garantir que as pessoas, de um momento para o outro, também não fiquem sem a sua própria casa, sem os seus próprios bens, em função daquilo que vai ocorrer no seu local de trabalho".
Disponibilizando-se para prestar todo o apoio necessário aos trabalhadores da Delphi, João Prata lembra que a autarquia oferece as suas instalações às entidades oficiais "para ali decorrerem todos os mecanismos de apoio", o que evitará deslocações para o centro da cidade.Este sábado, a União dos Sindicatos da Guarda já havia rompido o silêncio, colocando a situação da Delphi nas mãos da Administração da empresa e do Governo. Os sindicatos exigiram a aplicação de "um plano integrado de desenvolvimento" que, acreditam, evitará o despedimento de meio milhar de operários da fábrica de cablagens para automóveis.
A Delphi da Guarda tem actualmente nos seus quadros 950 trabalhadores, sendo quase certo que entre o final do ano e o primeiro trimestre de 2010 irá dispensar 500 funcionários, cenário a que a União dos Sindicatos da Guarda (USG) quer colocar um travão. Em declarações à Agência Lusa, Honorato Robalo, coordenador da USG, explicou a urgência de "um plano integrado de desenvolvimento estruturado para criar medidas que evitem o despedimento" desses trabalhadores, plano que na perspectiva dos sindicatos é agora uma responsabilidade quer da administração da delphi da Guarda quer do próprio Governo.
Temendo que esteja em preparação uma deslocalização da unidade fabril, o responsável sindical afirma que a "grande preocupação" da USG é "evitar os despedimentos e, sobretudo, a possibilidade do hipotético encerramento da Delphi a curto prazo". "Será que o grupo Delphi não tem uma perspectiva de deslocalização da própria empresa da Guarda?", deixou Honorato Robalo. Lembrando que naquela fábrica funcionou já a fábrica Renault, que encerrou em 1989, dando lugar à actual unidade "de cablagens", o sindicalista sublinhou que a reconversão é uma hipótese, pelo que "a requalificação (dos trabalhadores) é uma medida urgente" para "tentar superar o problema dos despedimentos". Nesse sentido - defende - os financiamentos do QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional) deveriam ser aproveitados "para a requalificação" da unidade mediante "um plano integrado, com regras de transparência e de obrigatoriedade para a empresa cumprir os deveres".
Honorato Robalo chamou ainda a atenção para o facto de a fábrica da delphi da guarda ser "um elo fundamental para o tecido produtivo do concelho", pelo que os despedimentos irão provocar "uma grande chaga social" na região. A Delphi é ainda hoje a maior unidade empregadora da cidade da Guarda - no passado chegou a dar trabalho a três mil operários - mas desde 2007 que vem sendo assombrada por cenários de despedimento. Adiada a primeira vaga de dispensas, em Julho de 2008 a administração acedia a novo adiamento. No entanto, o despedimento de 500 trabalhadores estava já agendado até finais de 2009. A administração justifica a medida com a crise mundial que atingiu o sector automóvel e consequente "redução da actividade" no segmento das cablagens. Um acordo firmado no ano passado entre sindicatos e administração garantia para os trabalhadores despedidos dois meses de salários por cada ano de trabalho. No protocolo ficou garantido que nas situações em que um casal trabalhasse na empresa, apenas um elemento poderia ser dispensado.
RTP
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