Pelo menos 140 pessoas foram mortas e 828 ficaram feridas nos violentos confrontos que ontem à noite ocorreram em Urumqi, capital da região de Xinjiang, no noroeste da China, envolvendo manifestantes da minoria muçulmana chinesa uighure. Centenas de pessoas foram detidas e Pequim ordenou um corte nas comunicações telefónicas para impedir a organização de protestos.
Com as autoridades a apontarem para um mais do que certo aumento nos primeiros balanços de vítimas, são agora várias as explicações avançadas para os acontecimentos deste domingo. A versão oficial aponta para confrontos entre a etnia muçulmana e a etnia Han, não havendo até ao momento indicação sobre a pertença das vítimas mortais.As fontes oficiais de Pequim estão a difundir um cenário de crimes perpetrados pelos uighures contra a restante população da cidade de Urumqi, com a destruição de carros e habitações a preencher os espaços noticiosos dos meios de comunicação do Governo.De acordo com relatos das agências locais, mais de 260 veículos foram alvo das acções dos manifestantes, muitos deles consumidos pelas chamas, e umas 203 casas teriam sido objecto de destruição.Imagens de pessoas a serem atacadas por manifestantes fortalecem a perspectiva do Governo chinês, que atribui a responsabilidade pelos violentos confrontos ao movimento dissidente uighure no exílio, garantindo Pequim que os líderes no estrangeiro lançaram recentemente apelos via Internet para que os mais de oito milhões de membros daquela etnia fizessem "algo em grande".
Os elementos uighure no exílio sustentam porém que as acções violentas apenas tiveram início depois de a polícia ter reprimido com o uso de força uma manifestação que até então estava a ser pacífica.Para já, um ponto comum nas versões que estão a circular aponta para o início dos confrontos no momento em que milhares de uighures concentrados na capital regional de Xinjiang se recusaram a dispersar às ordens das forças policiais.Os manifestantes reuniram-se no centro da cidade para pedir justiça depois de dois membros da etnia uighure terem sido mortos por colegas de trabalho da etnia Han numa fábrica no Sul da China.Entretanto, as autoridades têm o cerco montado na cidade e prosseguem as buscas para encontrar os elementos tidos como principais responsáveis pelos acontecimentos deste domingo, entre os quais cerca de 90 elementos-chave entre os uighures e que terão organizado os protestos. A preocupação das forças da ordem é agora impedir a fuga dos instigadores da acção.A etnia uighure (à qual não é alheia a ideia de separatismo), maioritária na região de Xinjiang, perdeu esse estatuto de supremacia na cidade de Urumqi depois de os chineses Han terem migrado para a cidade ao longo dos últimos anos, compondo agora a mais larga fatia dos cerca de 2,3 milhões de habitantes locais.
Do exílio, já se fizeram ouvir os lamentos uighures, com Alim Seytoff, vice-presidente da organização da etnia com sede na capital americana de Washington a lançar uma forte reprovação sobre a opção de forma de que deitaram mão as autoridades: "Estamos profundamente tristes com a utilização de uma tal violência pelas forças de segurança chinesas contra manifestantes pacíficos. Pedimos à comunidade internacional para que condene a matança levada a cabo pela China contra uighures inocentes."Seytoff teve ainda oportunidade para rejeitar as acusações que estão a ser cultivadas dentro do Governo de Pequim contra Rebiya Kadeer, presidente da associação, de estar por detrás dos protestos, tendo orquestrado as acções deste fim-de-semana e instigando os membros de Urumqi a tomarem em mãos acções concretas.O vice-presidente dos uighures em Washington foi liminar: "É uma prática comum do Governo chinês acusar o Sr. Kadeer de qualquer conflito".
Rtp, Paulo Alexandre Amaral
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