Ficou bem à vista, ao longo de todo o itinerário, a importância da antiga comunidade judaica ali radicada e que vai ser, de resto, um dos destaques do futuro centro de interpretação “Isaac Cardoso”, cuja construção já se encontra adjudicada. Segundo o presidente da Câmara Municipal, Júlio Sarmento, a iniciativa visa, por um lado, honrar a memória daquele proeminente médico judeu natural do concelho e avivar, por outro, “todas as referências documentais para uma investigação científica sobre as famílias judaicas, não só desta região, mas também do Norte de Portugal. Será uma investigação viva, que esperamos possa ser desenvolvida durante vários anos”, destacou o autarca. O centro, orçado em cerca de 1,2 milhões de euros, vai ser construído no casco histórico da urbe, cuja história está intimamente ligada a feitos relevantes da conquista e consolidação da independência nacional.
“Estou a adorar descobrir isto. É algo de espectacular que eu desconhecia”, referiu, durante a visita, guiada por especialistas destacados pela Câmara Municipal, Arménio Abreu. “O mais espectacular é ver no local a explicação dada para a existência e significado destes sinais e como há resquícios nos nossos hábitos ainda hoje”, acrescentava António Dias, outro participante. Graça Simões não escondeu, por seu turno, o interesse pela temática judaica que a levou de Coimbra a Trancoso e que, a meio da visita, ouviu algo que já não escutava desde os tempos da sua avó. “Ainda há pouco falavam do hábito judaico de varrer a casa de fora para dentro”, com a crença de que a entrada é sagrada e por ali não deve passar o lixo. “Eu ouvia isso da minha avó e ela não era judia. Mas de alguma maneira sabia esse hábito”, revelou.
Inscrições valiosas
No centro histórico de Trancoso “existem inscrições valiosas relativamente à presença da uma comunidade muito forte, que, por exemplo, contribuiu para a construção da importante sinagoga de Amesterdão. Uma comunidade judaica da qual herdamos a Feira de Trancoso, ainda hoje uma das mais fortes da região”, evidenciou o presidente da Câmara. Júlio Sarmento reconhece serem já poucos, “talvez umas dezenas”, os habitantes que praticam o culto judaico no município. O Centro de Interpretação Judaica “Isaac Cardoso” vai englobar uma sala de exposições, um pequeno templo de oração, espaço museológico dedicado ao passado da presença judaica em Trancoso e um Centro de Documentação Bibliográfica. Para além do interesse cultural e científico, “o mundo judaico é também muito importante do ponto de vista da dinamização do turismo, porque no interior do país a nossa aposta tem que ser feito no turismo cultural”, explicou Sarmento. De acordo com o autarca, municípios como Trancoso, Guarda, Belmonte, Castelo de Vide ou Tomar podem constituir-se numa importante rede sobre a temática. “E aí, o mercado judeu, como seja de Israel, dos Estados unidos da América ou França podem trazem novos fluxos económicos”, conclui.
As Beiras
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