Tudo porque o documentário "O Lar", realizado e produzido por António Borges Correia, ali rodado, foi seleccionado para a competição oficial do Festival de Cinema du Réel, que aconteceu entre 7 e 18 de Março. Já na trigésima edição, o certame foi este ano dedicado ao documentário. Embora não tenha recebido nenhum prémio – os vencedores foram conhecidos no dia 15 –, o filme foi «muito bem recebido e alvo de vários elogios», garante o realizador, acrescentando que esta poderá ter sido «uma rampa de lançamento para uma maior visibilidade do documentário». Idosos, funcionários, padres, enfermeiros, médicos, a psicóloga de serviço e até o presidente da Junta, sem esquecer as visitas regulares do lar, interagem num universo onde ninguém existe só, perante o olhar indiscreto da câmara. Afinal de contas, no Lar de Santa Catarina vive-se muito mais do que a rotina do dia-a-dia. Partilham-se histórias de vida. É este o mundo que surge retratado na película. «Tinha a intenção de escrever uma história de ficção que tratasse a temática dos idosos nos lares desde que terminei a escola de cinema em Lisboa. Tratava-se de uma história cruzada entre um casal de idosos e um casal de netos, só que esse guião foi ficando na gaveta», confessa António Borges Correia. Mas o fascínio por este universo não desapareceu. «O meu encanto pelos idosos está associado àquilo que os seus rostos têm de cinematográfico: por si só, são narrativos pelo passado que escondem, para além do facto inegável de serem indivíduos que, actualmente, não são ouvidos», considera.
Os protagonistas
António Gomes – o "senhor Gomes" como é carinhosamente tratado – é uma das personagens com maior destaque no filme. É que é poeta. «Mas um poeta a sério», acrescenta logo uma das funcionárias. Enquanto recita algumas das suas poesias, perguntamos-lhe a idade. Mas, a este respeito, prefere gracejar. «Então não se vê logo que tenho 38 anos», responde, ao mesmo tempo que desfolha as dezenas de páginas da sua poesia, à procura dos versos narrados em frente à câmara. Também Ester de Jesus, de Penaverde (Aguiar da Beira), teve "tempo de antena" no grande ecrã. Tem 86 anos. Corrige: «Vou fazê-los a 12 de Julho». Gosta de estar no lar, mas adianta logo que «não chega à casa da gente, lá estava mais à minha maneira». E sobre o documentário? «Já o viram?», pergunta de imediato. «Contam lá a história da minha vida», garante, envaidecendo-se. A dona Ester é uma das mais entusiastas do documentário de António Borges Correia e até guarda no bolso um recorte de jornal alusivo ao filme. Garante que as filmagens «em nada atrapalharam». Pelo contrário, «foi muito bom». Aliás, «os idosos lidaram muito bem com a situação, gostaram de aparecer e ficaram entusiasmados. Diziam que estava aí a televisão», recorda Sílvia Nascimento, a psicóloga da instituição. Entretanto, no salão de convívio, o documentário é bastas vezes recordado, em grupo, à frente de uma pequena televisão. «Foram tempos agitados, mas para o lar foi bom. De resto, nunca pensámos que o documentário tivesse tanto sucesso em Paris e, ao que sabemos, até deverá ser transmitido num dos canais de televisão nacionais dentro em breve», conta a psicóloga.
António Gomes – o "senhor Gomes" como é carinhosamente tratado – é uma das personagens com maior destaque no filme. É que é poeta. «Mas um poeta a sério», acrescenta logo uma das funcionárias. Enquanto recita algumas das suas poesias, perguntamos-lhe a idade. Mas, a este respeito, prefere gracejar. «Então não se vê logo que tenho 38 anos», responde, ao mesmo tempo que desfolha as dezenas de páginas da sua poesia, à procura dos versos narrados em frente à câmara. Também Ester de Jesus, de Penaverde (Aguiar da Beira), teve "tempo de antena" no grande ecrã. Tem 86 anos. Corrige: «Vou fazê-los a 12 de Julho». Gosta de estar no lar, mas adianta logo que «não chega à casa da gente, lá estava mais à minha maneira». E sobre o documentário? «Já o viram?», pergunta de imediato. «Contam lá a história da minha vida», garante, envaidecendo-se. A dona Ester é uma das mais entusiastas do documentário de António Borges Correia e até guarda no bolso um recorte de jornal alusivo ao filme. Garante que as filmagens «em nada atrapalharam». Pelo contrário, «foi muito bom». Aliás, «os idosos lidaram muito bem com a situação, gostaram de aparecer e ficaram entusiasmados. Diziam que estava aí a televisão», recorda Sílvia Nascimento, a psicóloga da instituição. Entretanto, no salão de convívio, o documentário é bastas vezes recordado, em grupo, à frente de uma pequena televisão. «Foram tempos agitados, mas para o lar foi bom. De resto, nunca pensámos que o documentário tivesse tanto sucesso em Paris e, ao que sabemos, até deverá ser transmitido num dos canais de televisão nacionais dentro em breve», conta a psicóloga.
O realizador
Durante um ano, António Borges Correia visitou o Lar de Santa Catarina, onde permanecia por períodos de dois ou três dias. «As filmagens decorreram calmamente, fui muito bem recebido e os idosos participaram de uma forma que me deixou positivamente espantado», recorda o cineasta, que já tem novos projectos agendados: «Estou a preparar um documentário sobre o stress do pós-guerra, a partir das crónicas de um ex-furriel, José Santana», adianta, enquanto acrescenta que as suas referências cinematográficas são as mais diversas, com destaque para «a influência de um realizador iraniano, Abbas Kiarostami». O realizador, natural de Lisboa, não recebeu qualquer apoio na realização de "O Lar" – filme orçado em 15 mil euros –, já que o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) lhe recusou subsídio. O Lar Fundado há mais de 25 anos, o Lar de Santa Catarina, no concelho de Trancoso, tem capacidade para receber, aproximadamente, uma centena de idosos. Apesar de se tratar de uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) e contar com o apoio da Segurança Social, a verdade é que a estadia de cada idoso pode chegar a custar 600 euros mensais. Valor que garante apoio religioso, psicológico e sócio-afectivo. «O lar valoriza cuidar do coração e da mente», garante Sílvia Nascimento. Mas também não são descurados «o conforto físico, os cuidados de alimentação, higiene, médicos ou de enfermagem», acrescenta. Para isso, existe uma equipa de três irmãs missionárias de Nossa Senhora de Fátima, dois enfermeiros permanentes, dois médicos, uma psicóloga, duas educadoras sociais e dois padres.
Durante um ano, António Borges Correia visitou o Lar de Santa Catarina, onde permanecia por períodos de dois ou três dias. «As filmagens decorreram calmamente, fui muito bem recebido e os idosos participaram de uma forma que me deixou positivamente espantado», recorda o cineasta, que já tem novos projectos agendados: «Estou a preparar um documentário sobre o stress do pós-guerra, a partir das crónicas de um ex-furriel, José Santana», adianta, enquanto acrescenta que as suas referências cinematográficas são as mais diversas, com destaque para «a influência de um realizador iraniano, Abbas Kiarostami». O realizador, natural de Lisboa, não recebeu qualquer apoio na realização de "O Lar" – filme orçado em 15 mil euros –, já que o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) lhe recusou subsídio. O Lar Fundado há mais de 25 anos, o Lar de Santa Catarina, no concelho de Trancoso, tem capacidade para receber, aproximadamente, uma centena de idosos. Apesar de se tratar de uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) e contar com o apoio da Segurança Social, a verdade é que a estadia de cada idoso pode chegar a custar 600 euros mensais. Valor que garante apoio religioso, psicológico e sócio-afectivo. «O lar valoriza cuidar do coração e da mente», garante Sílvia Nascimento. Mas também não são descurados «o conforto físico, os cuidados de alimentação, higiene, médicos ou de enfermagem», acrescenta. Para isso, existe uma equipa de três irmãs missionárias de Nossa Senhora de Fátima, dois enfermeiros permanentes, dois médicos, uma psicóloga, duas educadoras sociais e dois padres.
O Interior / Rosa Ramos